O Título
Felizmente há luar! É uma expressão utilizada por Raul
Brandão, em Vida e Morte de Gomes Freire, o que nos mostra claramente que Sttau
Monteiro recorreu a esta narrativa histórica, onde pôde confirmar factos
relacionados com a condenação do herói da conspiração de 1817.
D. Miguel Forjaz
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Matilde de Melo
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D. Miguel Forjaz – Lisboa há-de cheirar toda a
noite a carne assada, Excelência, e o cheiro há-de-lhes ficar na memória
durante muitos anos… Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens,
lembrar-se-ão do cheiro…
É verdade que a execução se perlongará pela
noite, mas felizmente há luar...
Para D. Miguel, a morte de Gomes Freire d´Andrade
serviria de exemplo a todos os que intentassem contra a ordem instituída e,
deste modo, a existência de luar permitiria que todos observassem a execução
e tirassem as devidas ilações. A morte do presumível chefe da conjura
facilitaria a afirmação do poder, ainda que fosse pela força e pela
injustiça. O cheiro a carne queimada ficaria retido na memória e intimidaria
todos os que ousassem qualquer tipo de conspiração. As suspensões frásicas
manifestam a dúvida, a crueldade e ausência de emotividade.
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Matilde de Melo – Olhem bem!
Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e
abram as almas ao que ela nos ensina! Até a noite foi feita para que a
víssemos até ao fim…
Para Matilde, pelo contrário, a morte do marido
serviria de lição a todos os que observassem o crime hediondo. O seu discurso
é manifestamente emotivo, marcado por frases exclamativas que traduzem o
apelo à esperança e à coragem. Para a “companheira de todas as horas” de
Gomes Freire, a luz sobrepor-se-ia às trevas e permitiria que a morte desse
lugar à vida. Seria o exemplo para pôr termo a um regime autoritário e
injusto e, consequentemente, possibilitaria o nascimento da justiça e
liberdade.
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